Rapaz, eu tenho que te falar uma coisa: depois que meu primo me chamou pra surfar lá na praia de Maresias nesse último verão, eu fiquei doido. Imagina eu, que moro cá no oeste de Minas Gerais quase chegando no Mato Grosso do Sul, que nem “mar de morros” eu vejo por aqui (aqui já vai ficando com ar de planalto), ser convidado pra ir surfar?? Falei com meu primo: “cê tá ficando doido, né? Eu num sei nem o peso duma prancha de surfe, nunca nem vi uma ao vivo e cê tá querendo que eu vá surfar com você??”.
Eu estava completamente incrédulo, e meu primo ria do outro lado do chat. Como eu moro perto do Mato Grosso, chegar a Bonito é fácil pra mim, e é uma viagem que faço com frequência. E quando não estou nadando naquele cenário de filme, estou sempre em algum rio ou cachoeira daqui da região. Isso acabou me dando porte físico de esportista, e meu primo estava apostando nisso. “Cê tem porte, cara, aposto que leva jeito no mar!”. Pensei: “pelo menos fico conhecendo as praias de Maresias, nem que seja de gesso nas pernas. Azar ele se tiver que me carregar a semana toda!”. E fui embora pra lá.
Daqui não saio!
Cheguei a Maresias de noite, e fomos à praia na manhã seguinte. Lucas escolheu um ponto bem aberto da praia, bem longe das bordas, onde as ondas são maiores. Não são ondas havaianas, mas parece que naquele dia o mar estava meio mal humorado. Já tinha uma galerinha lá surfando e eu fiquei olhando pra sacar qual era a deles, enquanto Lucas me dava algumas instruções. Confesso que não escutei quase nada e ele teve que repetir tudo de novo; estava ficando tão assustado com os caldos que aquela galera estava tomando que desliguei completamente da “aula” teórica sobre surfe.
Acabei prestando mais atenção quando meu primo repetiu, com direito a encenação sobre a prancha e tudo (aliás, ele ficou ridículo fazendo isso! Foi mal, Lucão). Na teoria não estava difícil de entender, e tudo que ele falou fazia sentido: como se faz as remadas até a onda, como escolher a onda mais legal pra pegar, etc. Por enquanto, ele não falou em manobras, já que eu nunca tinha feito nada parecido na vida, né?
“Mas vem cá, aquele pessoal ali tá aprendendo também?”, perguntei, apontando pra galera que tomava um caldo atrás do outro. “Não, não, aquilo ali é tudo marmanjo daqui, ele treinam todo dia”. Ok, eles moram aqui, treinam todo santo dia e só estão engolindo água?? “Daqui eu não saio”. Sentei sobre a prancha e fiquei curtindo o visual da formosa praia de Maresias mas sem pensar em sequer entrar na água. No máximo, as canelas.
Saaaaaai, sô!!
Deu o que fazer pro meu primo me tirar dali! Coitado do Lucas. Empaquei feito as piores mulas de Minas Gerais e não tinha santo que me convencesse a pegar nem ao menos um jacaré inocente nas marolinhas mais próximas! E a galera lá, tomando capote atrás de capote – teve um que saiu de prancha quebrada! Mas nunca que faço uma doideira dessas!
Por fim, Lucas desistiu e foi surfar, pra não perder a manhã. Acho que pra me encorajar, ele pegou umas ondas menores e fez manobras mais simples. Olhando aquilo, parecia fácil, e aí eu comecei a me empolgar de novo. Acabei acenando dizendo que ia entrar. Até hoje não sei se fiz bem, porque mesmo nas marolas eu tomei capote! Mas os dias passaram e na véspera da minha volta, eu já estava catando onda mais forte e mais no fundo. Quase não caía, mas ainda não arriscava muita manobra, não. Mineiro vai devagar porque é perfeccionista, já dizia meu avô.
Mas voltei pra minha cidade a contra-gosto! Minha vontade era mudar pra beira da praia de Maresias e fazer igual aqueles caras do primeiro dia: treinar o tempo todo! Surfar é demais!